Como ler um livro que sequer saiu.

Já reclamam. Os outros, claro. Eu, o ápice da racionalidade ocidental, mais cristalino e puro que um anjinho coroando uma estrofe de Rilke, eu estou aqui só pra ponderar. E começaria assim, em movimentos suaves da varinha de condão: gente ruim ali no meio? Sim, gente ruim ali no meio. Até gosto da ideia da Calcanhotto organizar a antologia, e o problema não é nem de longe esse. "Esse": uma não-especialista, alguém tão afastado das cúpulas da finesse poética quanto um trouxa do castelo de Hogwarts. Claro que nada disso. O que faria de alguém um especialista em poesia contemporânea, por exemplo? O famigerado canudo de papel ― e só? Eu por exemplo estou muito mais afastado que ela e isso não me impede de fazer pior: falar do que nem foi lançado. Mesmo porque devemos nos lembrar daquele brocardo: gente que sabe declamar poesia é gente que sabe de poesia. Ponto. Agora Gregório Duvivier, pessoal? Estrela Leminski?

O espasmo é absolutamente esperado. Reviro os olhos e proclamo: catástrofe, crise. Ou, o que é uma variação sutil e igualmente efetiva de tal distúrbio, posso acusar um conchavo entre poetas e editores, todos assinando, depois do jantar e usando uma única caneta esferográfica presa por um barbante, um contrato que vale mais que barras de ouro.

Outros espasmos também já foram catalogados (e o número não para de crescer). A criatividade não atua só na hora de encontrar uma rima com "encanto". Ela também atua na hora de passar uns bons parágrafos (pelo menos três, à maneira destes três até agora) escrevendo um texto cheio de rancor por não ter achado seu nome na lista de aprovados no concurso 2017.1 para ingresso na Fundação Cânone & Glória. Claro que a lamúria não virá exatamente desse jeito. Você vai, sei lá, reclamar que um poeta que muito admira ou que é praticamente um clone seu não foi selecionado.

Nessas horas todo mundo tem dedos pra dar e vender. É um tal de aponta-daqui-aponta-acolá que só vendo. Mas também existem variações mais sutis da atividade. Você pode tirar a tabelinha do bolso e contar o número de mulheres, negros, gays e anões na antologia. Proporção pelo jeito todo mundo sabe fazer. (Interpretar eu não tenho tanta certeza.) Onde está a representatividade, afinal de contas, se de acordo com os meus conhecimentos aritméticos a média global de melanina na antologia é de ♥%?





Discordar de antologia é claro que todo mundo vai discordar. Você já conheceu alguém que derrubou um pão com manteiga virado pra cima? Aposto que não. Pois é. Do mesmíssimo modo, aposto que nunca conheceu alguém que gostou de uma antologia todinha, de cabo a rabo. Não dá pra gostar. O objetivo da antologia é fazer com que você não goste. Me correspondo com alguns antologistas imaginários e sei do que estou falando: todos fazem parte de um clubinho ocultista que possui como lema uma frase que, em latim, traduzindo livremente, significa algo como "Fazei com que vosso leitor cuspa fogo pelas ventas".

É insuficiente apontar quem eu não gostei na antologia. Primeiro porque, como sempre ressalto, a produção contemporânea é uma produção em aberto. Não dá pra saber o que vem depois. Eu acho a poesia do Duvivier uma coisa insossíssima (gostei da sonoridade disto), mas nada me garante que ele não escreverá, nesta quinta feira 12 de janeiro de 2017, um poema que me acertará em cheio. Do mesmo modo, pode ser que um velho poema dele, ou um inédito, tão logo dê as mãos a um comparsa inusitado, advindo de terras estrangeiras, acabe dando uma bela turbinada nos dois. Em antologias não é nem um pouco absurdo e é até mesmo frequente que coisas do tipo ocorram. Algumas antologias, aliás, podem ser lidas de maneira autônoma, como se fossem um livro novo na produção do poeta, o que uma menção mesmo que de passagem às antologias que Bandeira fez de si mesmo são capazes de atestar.

Mesmo porque tem gente muito boa no meio da antologia: Angélica Freitas, Ana Martins Marques, Fabiano Calixto, Marília Garcia, Ismar Tirreli Neto, Victor Heringer. Mais uma vez o fator imponderável pode entrar em campo: é possível que esses nomes que aprecio apareçam com poemas que me farão quando muito torcer o nariz. Isso, claro, partindo do princípio que a antologia será de inéditos. Tudo o que especulo neste exato instante tem como base apenas o que essa capa azul e cheia de nomes tem a oferecer. É claro que se trata de uma situação muito ridícula, ainda mais porque a formalizo num trambolho textual aqui no bloguinho ― mas, bem, sei que tem muita gente fazendo o mesmo com seus miolos ou com seus amigos problematizadores, de sorte que no final das contas não estou saindo muito do quadrado.

De todo modo, pois sim, não dá pra saber qual é a da antologia, quais foram os critérios ou se é que houve critérios. Pode ser que a Calcanhotto tenha decidido apenas usar aquele tipo de resposta meio aeromoça da vida, algo como "os poemas que me comoveram". É. Isso acontece. Ela tem carisma, ela pode. Seria uma pena, não minto, que a banda tocasse assim apenas. E mesmo que toque, isso não quer dizer que a efetiva seleção e disposição de poemas deva, a nossos olhos, obedecer ao mesmo princípio. O antologista pode dizer que buscou escolher os poemas de técnica versificatória mais perfeita, e, ainda assim, no meio daquele maremoto esperado de sonetos (Camões dando as caras de maneira mais ou menos espaçada), é possível que enxerguemos outros critérios norteando a antologia, como o de poemas com técnica versificatória até apurada mas com um verniz meio passadista, aquele tipo de mofo que às vezes ocorre apreciarmos. Ou então poemas com perícia versificatória ma non troppo, é dizer, com perícia só na hora de esmerilhar sílabas tônicas nas comportadas posições de decassílabos heroicos, sem, todavia, uma aliteração ou assonância ou qualquer coisa mais divertida que também aponte para justamente, ora pois!, a tal perícia versificatória (isto é, saber criar efeitos especiais dentro do curralzinho das dez sílabas).

Enfim. Como leitores nós somos livres, e muitas vezes o fato de que o antologista tenha se esquivado de ordenar os textos graças a um princípio maior, ou a vários princípios que fossem, não quer dizer que na prática a antologia será assim tão livre e que nós, leitores, por conseguinte estamos impedidos de encontrar qualquer ordenação que seja naquele livro só porque o genitor deliberadamente não dispôs nenhuma. Assim, pode ser que sejam poemas inéditos, os dentro desse livro, mas pode ser que sejam poemas já publicados, no que a antologia estaria convidando o leitor para um périplo na obra dos amiguinhos poetas, ou seja, algo como um "leia e, se gostar, já sabe, né?: compre!!!"





Pode ser também que eu realmente não goste de ninguém aí. Não quer dizer, por conseguinte, que sou um ranzinza da vida. A antologia parece ser muito diversificada, mas digamos que um atacado de produtos paraguaios também costuma ser muito diversificado sem, todavia, que exista algum produto realmente de qualidade ali no meio: encontro um conjunto de copos descartáveis, um prato de alumínio, um cortador de grama e um pôster das Spice Girls, mas nenhum deles dura uma semana.

Será que ao menos assim eu posso dizer proclamar a crise em paz?

Olha, você pode chegar fazer isso de maneiras muito mais curtas. Você pode simplesmente acordar com o pé esquerdo e, depois de pisar na pecinha de LEGO que seu filho ontem à noite deixou no chão, gritar: "maldita poesia contemporânea!" Eu só alertaria que, por mais que pareça ser muito ampla essa tal antologia, ainda assim ela não abarca tudo, e, você sabe (eu sei que sabe), trata-se apenas de uma antologia organizada por alguém e com empecilhos de ordem editorial que podem muito bem ter atravancado a inclusão de alguns poetas. (Sei, aliás, de poetas que se recusaram a participar da antologia, se quer saber.) Do mesmo modo, não dá simplesmente pra dizer que o fato de que não gostou de tudo ou de boa parte, ou, mais uma vez, o fato de que o poeta que conquistou seu coração está ausente da lista; bem, não dá pra partir disso e dizer que a antologia representa uma espécie de conchavo entre o Clube Jovem de Poetas Tupiniquins e a Associação de Críticos Brasílicos.

É uma antologia, meu amigo. Sei que não é qualquer uma pois está sendo lançada por uma das maiores editoras do país. Essa bagaça vai ser socada no raio que parta de qualquer livraria país afora. Se você morar no mangue, se você morar numa cabana no meio dos pampas, se você morar na waste land goianiense você vai encontrar esse livro azul reluzindo em meio à biografia do Sergio Moro. Mas nada disso implica dizer que a antologia seja representativa de toda a poesia contemporânea.

Da poesia mainstream pelo menos, você pode pensar. Hm. Ser publicado por uma grande editora é ser veiculado, como dito, país afora, de modo que mesmo aquela pessoa que não sabia bulhufas de poesia contemporânea, mesmo aquela pessoa que realmente achava que Manoel de Barros era o poeta mais recente do Brasil, mesmo essa pessoa vai conhecer alguma coisa desses nomes. Sim. É algo. Com relação, todavia, ao grande público. O que te leva a incluir a crítica aí no meio? Ou uma parcela da crítica que represente o grosso da coisa. Enfim. Partir do princípio que ilustrado e independente é só você, o resto da crítica sendo um amontoado de leões-de-chácara defendendo o portão de ouro batido dos Schwartz; isso, essa túnica de salvador da pátria é no mínimo espalhafatosa, se quer saber.

Pra ser mais claro. O que tem movimentado a poesia contemporânea e a crítica dessa mesma poesia são editoras menores e sites minúsculos. Grandes editoras fazem lá seu papel, algumas delas, como a própria Cia das Letras, se incumbindo de esporádicas edições de poesia contemporânea, o que não nos leva à conclusão (olho no "esporádicas") de que é um papel desprezível. E isso é importante de ser notado. Quem analisa a poesia contemporânea com base apenas no que suas idas dominicais ao shopping tem a lhe oferecer está um tantinho longe do que é de fato a poesia contemporânea. Ele vai conhecer gente muito bacana, mas se quiser expelir um sermão da montanha com base no que colocou na sacola de compras, então provavelmente estará fazendo papel de bobo. E é por isso que digo que é preciso um cuidado muito grande na hora de se estabelecer um liame tão próximo assim entre a publicação de uma antologia por uma grande editora e uma espécie de aval da crítica, ainda mais se esse liame traçado sem cuidado nenhum, casado com um juízo negativo, for capaz de acusar até o chão que se pisa de fazer parte de uma seita bolchevique. Ou mesmo, claro, se, casado com um juízo positivo, esse mesmo liame fizer o camarada canonizar até bula de remédio e proclamar nossa época o melhor dos mundos.





Não posso deixar de esquecer que existem variações ainda mais sutis da tese do conchavo. A pessoa pode, partindo de um trabalho que deixaria um detetive criminal de queixo caído, investigar a filiação ideológica de cada um dos escritores e... Ah, ah. Que alívio. Nossas narinas quando sentem o fedor do marxismo cultural se dilatam e o frêmito do "eu sabia!" apraz feito uma brisa.

Quero acreditar que o problema de uma postura dessas é por demais evidente. Não vou ficar gastando meus caracteres com isso. Sem nem contar que abre espaço para que uma leitura peremptória seja feita justamente pelo flanco oposto, ou seja, que um desmiolado lá do outro quadrante aponte para tuas preferências ideológicas e te arranque pra fora da lista de embarque muitas vezes sem você nem saber. E ler a tal da poesia, nos perguntamos depois dessa troca de tabefes, onde fica? Ao Deus dará, lógico.

Mas, claro, posso estar sendo sarcástico demais (no geral sempre estou). Não seria o caso de contarmos quantos poetas com ideologia de direita, por exemplo, existem na antologia? Ou quantos poetas, digamos, conservadores? Todavia, picuinha que se impõe, uma postura assim não estaria próxima demais da postura de contar quantos poetas gays também existem ali? Virando de cabeça pra baixo continua sendo uma questão interessante. Há muito mais proximidade do que se imagina entre a reivindicação por mais poetas cristãos (ou, o que me parece ser mais comum, por um número menor de "esquerdistas") e a reivindicação por mais espaço às minorias.

Claro que não se trata de uma peleja que deva sucumbir a métodos simplistas, como aquilo que disse de sair à cata de posicionamentos ideológicos por parte do artista, meio que pressupondo que se ele ocupa a outra casa do tabuleiro então de um jeito ou de outro ele está querendo te doutrinar com aqueles versos amorosos só na aparência, ou mesmo de achar que pelo fato dele ser "de direita" (com toda a opacidade que uma alcunha dessas possui) ele está necessariamente rendendo loas à estirpe dos Bolsonaros. Quando se diz que hoje o panorama poético é plural, um dos sustentáculos mais fortes para uma percepção dessas é o fato de que os leitores demandam pluralidade, mesmo que, na prática, eles, enquanto leitores, não sejam tão plurais assim. É só que, como um puxa a sardinha de cá e o outro de lá, e como a internet deu ferramentas para que se contemple uma variedade de poéticas que antes poderiam ser apagadas pela bomba de fumaça lançada por grandes narrativas de história literária, então é claro que o ditame de que uma antologia se queira a mais ampla possível é um ditame válido. Pois é precisamente o que vemos, não só de fato como também o que a comunidade de leitores no frigir dos ovos se esforça em ver. Não se pode esquecer, afinal, que o subtítulo é uma antologia incompleta. Isso vale a pena ser notado.





O que nos leva aos dedinhos. O que dizer deles? Digo: quantas mulheres, quantos negros, quantos gays... Não parece esquisito que as coisas sejam conduzidas nessa aritmética enfadonha? Estamos condenados a, diante de toda reunião de escritores que for feita, fazermos uma espécie de listagem para que aquele número passe pelo comitê de assuntos de representatividade e justiça social?

Ao mesmo tempo, diante do fato de que não só esta antologia, como premiações e festivais literários, por exemplo, sempre trazem um número muito pequeno de artistas negros para o centro ― não te parece estranho que encaremos com tanta naturalidade um número tão baixo e tão recorrente assim? Digo: não temos bons artistas negros em atividade? Veja que não estou dizendo que devemos estabelecer cotas "até pra isso". Não. Como sempre digo, uma proposta dessas pressuporia que o mecanismo crítico, que envolve basicamente percepção do fenômeno literário, maneiras de interpretação e valores estabelecidos, estaria funcionando que é uma beleza, todo tinindo. Algumas folhas de louro que se jogue ao léu devem bastar.

Não, não é isso. Não se trata de, horror dos horrores, tirar um bom artista branco para colocar um negro mediano ali no meio. Fique tranquilo, respire. Eu estou do seu lado. Pegue na minha mão, olhe nos meus olhos. Acalmou? Agora me diga: partindo do princípio (uma suposição, apenas!) que existam poetas medianos aí, desses que alguém lê e logo depois pensa numa grossa camada de estofo, eu diria... Não te parece estranho, assim sendo, que um bom artista negro tenha ficado de fora? Quer dizer: não estou afirmando pra você que realmente existem esses poetas com consistência de estofo, muito embora minha opinião seja de que a inclusão de Gregório Duvivier e a exclusão de Ronald Augusto ou Ricardo Aleixo indiquem-no precisamente; enfim; não precisamos chegar a tanto, ou seja, não precisamos chegar a mais um capítulo do seriado Minha Opinião Tomada Como Fato Evidente; eu digo simplesmente que: nunca te passou cogitar que, ao invés da hipótese do branco maravilhoso dando lugar ao negro medíocre, tenhamos precisamente o oposto?

Agora tente plantar, com muito cuidado e carinho, essa caraminhola aqui na sua cachola: nunca te passou cogitar que esse segundo movimento, o tal do "precisamente o oposto", é mais frequente do que se imagina? Ou você, para voltarmos à pergunta que continua nos espezinhando de longe, acha realmente que temos um número tão baixo de bons poetas negros que justifique esse número baixo e recorrente (é a segunda vez que dou ênfase ao termo)? E, caso você realmente ache, responda também com sinceridade: destes livros aí que você tem na sua estante e não leu, ou desses que constam no boleto de pagamento que você vai pagar amanhã mesmo na lotérica, ou mesmo daqueles que estão na sua lista de "Oh, céus, adoraria lê-los"; enfim; desse amontoado aí, quantos são de escritores negros?





Caso o leitor não goste da ideia de fazer o raciocínio para mulheres, negros ou gays, quem sabe por achar que de tão politicamente correto ele vai acabar levando uma advertência da patrulha ideológica; bem, dá pra fazer o mesmo quanto à região geográfica dos autores, ou mesmo quanto à poética praticada (ou, que tal?, quanto ao número de conservadores ― se com isso você abrir um sorrisão). Quantos amiguinhos do Centro-Oeste ou do Norte nós temos aí no meio? Quantos praticantes da arte fodástica da poesia erótica?

São questionamentos bons de serem feitos. O que não dá é pra pegar seus resultados e banhar o texto todo com uma espécie de argumento corrosivo que parte de indiretas e do fato de que se saiu pela Cia das Letras então dominou o mundo e/ou reflete a ideologia impregnada na cabeça do digníssimo povo brasileiro. Antologias sempre serão deficientes não só porque não trazem tudo o que você gosta. Na verdade, se você esparramar as figurinhas todas em cima do tapete e querer montar um álbum só com as que prefere, é bem possível que ainda assim não consiga, ou que, dois dias depois, revendo o serviço, ache que cometeu algumas graves injustiças. Antologias são espaços em branco, reconhecidos às vezes pelo antologista mas, na maior parte dos casos, cavucados pelo próprio leitor. O convite que elas fazem, afinal de contas, não é só o de "isso daqui representa, isso daqui é seu mapa". Costumamos ler isto (e muitas vezes a antologia nos é vendida em tal embalagem); entretanto, é dever cívico notar que uma antologia nem sempre se traduz em pretensões tais: se o propósito é catar os poemas que nos enchem de paixão, isso daí dificilmente servirá de mapa para alguém (a não ser que eu seja fã da Calcanhotto). Do mesmo modo, servir de mapa não quer dizer servir de mapa definitivo de uma geração, uma espécie de caminho da roça capaz de levar a épocas futuras onde exatamente aqueles nomes cairão no vestibular. Se é uma antologia de poemas sobre bichos, um poema mediano pode entrar só porque falou de um ornitorrinco ou de um pássaro exótico o suficiente. O fato é que, traduzindo-se ou não em aspirações mui elevadas, nós, diante de antologias, devemos também dizer com nossos botões: "ela me mostrou isso, mas, porque faltou aquilo, buscá-lo-ei". Espaços em branco servindo de trampolim.





Agora quanto a mim, irmão das almas, agora quanto a mim... Bem. Tudo são suposições. Ouço mais ou menos o que vem a meus ouvidos. Suponho que exista uma polêmica instalada no meio literário primeiro porque sei que deve existir uma. Ora: é uma grande editora. Isso causa inveja. A maioria dos escritores nutre um sonho erótico com grandes editoras, algo como um jantar à luz de velas em que o editor arranca o manuscrito da pessoa e diz, com voz bem sensual: "temos interesse em publicar seu livro".

Segundo porque o meio literário precisa de polêmicas para sobreviver. Ele não pode querer ser chamado de "campo literário", ou mesmo "universo literário", se acordar agigantado o bastante, e não ter nenhuma polêmica em seu bojo. E terceiro e quarto pois cheguei a ver, um pouco de longe, quem abriu o berreiro e vi quem lançou indiretas pra quem abriu o berreiro. Capisce? Sou uma pessoa um pouco afastada dos epicentros do meio livresco, de modo que no geral só fico sabendo da coisa quando toda uma densa rede de fofocas e amizades desfeitas (e poemas satíricos também, como sói) se encontra apagada e um tanto quanto murcha. Melhor assim, no fim das contas.

Eu certamente vou comprar a antologia. É isso. Ou talvez nem tão certamente assim pois esse ano tá meio complicado. Vacas magras, sabe como é... Se alguém quiser me dar de presente, eu acharia lindo. Guardaria o livro com todo carinho na estante, pois isso de resenhar também são outros quinhentos. A preguiça pode bater a tal ponto que eu me convenceria de que, ué, isso que escrevi pode servir de certo modo de resenha também, algo muito próximo da arte milenar do "Não li e não gostei".

Aguardemos.