Tony Harrison (1937 - )

 


Tony Harrison é um comunista safado, bolivariano e muito provavelmente petista. Nascido no seio de uma família de operários em Leeds, Tony, doravante batizado Tonho, recebeu uma educação clássica que lhe permitiria viajar boa parte do mundo lecionando. Ele é o que podemos chamar de poeta público. Não só pela tendência pública de muitos de seus textos, mas também pela ressonância que muitas de suas opiniões possuem. Também deve ser sopesado o fato de que Tonho possui uma carreira teatral respeitável, tendo adaptado de maneira engenhosa uma plêiade de épocas, indo do teatro grego (Ésquilo, Sófocles) ao teatro de Mistério medieval e ao teatro clássico francês (Molière, Racine). A trilogia Oresteia de Ésquilo, pra você ter uma ideia, foi adaptada em apenas uma peça que se vale de versos de doze sílabas aliterativos com quatro acentos, isso pra não contar o estilo nortenho que o texto possui. Veja-se a fala inicial do sentinela:

         No end to it all, though all year I’ve muttered
         my pleas to the gods for a long groped for end.
         Wish it were over, this waiting, this watching,
         twelve weary months, night in and night out.

 Os coros também são dignos de nota. Um trechinho:

         my husband sacrificed his life
         my brother’s a battle-martyr
         aye, for someone else’s wife —
         Helen, whore of Sparta!

São procedimentos que nos fazem lembrar, de pronto, as versões poundianas de Sófocles (Women of Tracchis, Elektra). Talvez um leitor mais purista erice os cabelos, mas desde já é importante ressaltar que adaptações não são simplesmente algo "comum" no teatro. Nós podemos ir muito além e dizermos que elas são ínsitas e necessárias ao próprio teatro...

Essa carreira teatral considerável não só impactaria a recepção da obra do Tonho como também influenciaria na composição de muitos de seus poemas, que assumem, conforme a crítica já assinalou de maneira reiterada, uma forma eminentemente dramática. Mas antes de chegarmos lá, o que você precisa entender por enquanto é que ele é um comunista safado. Quem lê seus poemas nota de maneira extremamente clara a forma insípida e imoral com que ele entope de doutrinação ideológica versos que deveriam ser puros e líricos como açúcar refinado numa rosca de rodoviária, pra não dizer na maneira como ele subjuga o indivíduo em prol de um coletivo que só mesmo a imbecilidade dos setores da esquerda, em especial aqueles representados pela ala marxista e seus rituais satânicos largamente comprovados, consegue demonstrar.

Ousa duvidar? Te provo. Se liga só. Eu trago aqui três sonetos desse cara. Sim, sonetos. O que só mostra a decadência cultural de nossa época, pois, malgrado esse tal de Tonho ter recebido educação clássica em Leeds, como eu disse anteriormente, isso não quer dizer absolutamente nada, e eu posso manter sem muitos problemas meu argumento de que ele é um corruptor de formas mui elevadas, clássicas, belas e morais (e uma série de outros adjetivos que eu me comprazeria em citar se estivesse com meu Dicionário de Sinônimos aberto aqui do lado).

Os sonetos desse Tonho são meio esquisitos, pois possuem 4 estrofes. Sei que todos aqui somos de humanas, mas vamos dar as mãos e abrir a calculadora do Windows: 4 x 4 = 16. 16 não é 14. E aí? Como fica? Seriam sonetos estrambóticos, à maneira de Aretino? (E como tudo nessa vida temos que explicar, ó céus, vamos lá: Pietro Aretino, o Wesley Safadão da Itália renascentista.) Não. São os chamados *~~*sonetos meredithianos*~~*, isto é, um tipo de soneto muito usado por um poeta vitoriano denominado George Meredith, marcadamente em sua obra, publicada em 1862, denominada The Modern Love, a fabulosa história de um casamento burguês que ruiu logo que a besta da decadência moral (não faço a mínima ideia de quantas vezes eu já repeti e/ou repetirei essa expressão, mas, sabe, é preciso enfatizar, pois assim você acaba acreditando) mostrou os chifres. Isto é: a história de um adultério.

Pois muito bem. Uma forma de soneto usada por Meredith, num contexto narrativo-dramático, pra espelhar a piscina cheia de ratos da burguesia. O Tonho, comunista do jeito que é, socializou a forma do Meredith, que já é por si só coisa de alguém que é imoral a ponto de perverter o soneto (eu tô quase chorando, é sério: não mexam com o soneto!!!).  O poeta diz, no início de On not being Milton,

         Read and commited to the flammes, I call
         these sixteen verses that go back to my roots
         my Cahier d'un retour au pays natal

Um esboço de tradução:

         Lido e oferecido às chamas, chamo ao
         que vai às minhas fontes ― meu soneto,
         meu Cahier d'un retour au pays natal

E na verdade ele fez isso com várias outras formas, como por exemplo os epigramas na sequência Palladas, em que destaco o 23, comovente pois mexe com o íntimo de nosso bolso:

         Yes, I'm poor. What's wrong with that?
         What is it that I've done to earn your hate?

         It's not my character you're sneering at,
         only the usual senselessness of Fate.

Um esboço de tradução:

         É, sou pobre. Tem algo errado nisso?
         Quê que eu fiz pra valer ess' rebuliço?

         Não é do meu jeitão que ocê tem rido.
         É do de sempre: o Fado sem-sentido.

Mas, além de socializar a forma do tal do George Perverte-Sonetos, ele mesclou memórias afetivas latentes a um fundo social expressivo, embora nem sempre explícito. Veja-se o caso do soneto Marked with D. Valer-se de uma letra do alfabeto, sozinha e desprotegida ali no título, deixando implícito e explícito na medida certa o que exatamente essa letra quer dizer; isso é algo que o autor também faria no poema v., um de seus poemas mais famosos pois foi filmado e emitido, em 1987, em rede nacional pros gringos. (E sem propaganda-relâmpago da Jequiti, dizem os boatos.) v. é a respeito da visita que Tonho fez ao túmulo dos pais. O túmulo tava todo vandalizado e aí ele poetizou a respeito. A letra "V" pode significar muitas coisas, como versus ou vitória. Vandalismo. Enfim. É um poema que, pra repetir o que disse, vale-se de maneira muito tocante de temas pessoais e temas políticos pra construir o efeito estético do texto. Claro que é um poema tido como chocante graças a seus versos sem papas na língua. Observe:

         'The language of this graveyard ranges from
         a bit of Latin for a former Mayor
         or those who laid their lives down at the Somme,
         the hymnal fragments and the gilded prayer,

         how people 'fell asleep in the Good Lord',
         brief, chisellable bits from the good book
         and rhymes whatever length they could afford,
         to CUNT, PISS, SHIT and (mostly) FUCK!'

Um esboço de tradução:

         Aqui no cemitério os termos vão
         de um pouco de latim pro gentil-homem
         ou pra quem perdeu sua vida em Somme,
         fragmentos de hino e cândida oração,

         tantos que "dormem junto ao bom Senhor",
         até o trechinho em pedra, nu e cru,
         rimas quaisquer e até mesmo COCÔ,
         BOCETA e (especialmente) PAUNOCU!

O filme pode ser visto sem nem mesmo abrir uma nova aba no seu navegador. Só clicar e se perverter:




D, no soneto que catei pra comentar, é de Death ou Duty. O poema foca na tripla rendição que o pai de Tonho possuía, seja à religião, seja ao país, seja à sua posição social. Isso da posição social, aliás, o Tonho sempre retrata em termos que poderíamos dizer como propriamente bakhtinianos (quem primeiro estabeleceu esse paralelo foi Terry Eagleton), ou seja, o conflito entre sujeitos donos de seus discursos e aqueles que, por não o serem, são jungidos por discursos dominantes. O compadecimento que o poeta sente, a maneira carinhosa com que ele observa seu pai, num poema que, como os outros da série, apresenta uma estrutura narrativa, bem como a maneira como o poeta expande seu olhar e encara a realidade, mesmo familiar, de uma maneira não ostracizada ainda que num plano lírico ― isso tudo dá uma dimensão pungente pra coisa toda. E olhe que o Tonho coloca uma galera dentro de seus poemas; não é só pai e mãe, que, como já dizia o bom e velho Larkin, fodem contigo. É uma Grande Família, sem tirar nem pôr. Numa sequência de dois sonetos dedicados ao avô, o poeta se lembra que ele carregava um soco-inglês 'just in case', soco-inglês que, diga-se de passagem, tantos e tantos anos depois, serve apenas de peso de papel. Como diz Harold Pinter num comentário já famoso sobre a obra do Tonho, sua poesia é "brilhante, passional, ultrajante, abrasiva e, no caso de seus sonetos familiares [esses mesmo que estamos focalizando], de uma ternura imensa."

Eu falei em série. Todos os sonetos aqui traduzidos advêm de um livro chamado School of eloquence, onde a questão do discurso que junge ou liberta se faz patente no plano geral. Foi publicado inicialmente, em parte, no final da década de 70 e depois na década de 80. O leitor encontrará outras peças famosas de Harrison nesse livro, como, por exemplo, Them & [uz], onde a questão dos conflitos discursivos se torna ainda mais clara. Ou então, veja-se a quadra que abre o livro, Heredity:

         How you become a poet's a mistery!
         Wherever did you get your talent from?
         I say: I had two uncles, Joe and Harry
         one was a stammerer, the other dumb.

Tentando traduzir, o que não é nem um pouco fácil pois, como já dizia Michael Hamburger, os poemas mais simples parecem ser os mais intraduzíveis:

         Virar poeta: enigma vago!
         O seu talento. Onde o achou?
         Tive dois tios: Harry, Joe.
         Um era surdo e o outro gago.

Não sei se o Tonho já foi traduzido ou não entre nós. Eu e o Pedro traduzimos dois sonetos dele, dois dos mais tocantes e, em certos sentidos, dos mais famosos também. Veja-se o caso de Timer. O poeta termina mencionando um treco (that thing) que a mãe dele costumava lhe deixar usar para que cronometrasse o cozimento dos ovos. Que treco é esse? Não é que o poeta não saiba. Ele sabe: é um Timer. Um egg timer. Talvez você nunca tenha visto um, e eu também nunca vi ― e em verdade vos digo que isso mais parece um daqueles produtos da Polishop, coisa de casa de classe média americana (afinal de contas, que tipo de pessoa precisa de um timer pra cozer ovos?); mas eles existem e estão sendo comprados em 12x sem juros.

Pois bem. O poeta termina não sabendo direito o nome; ele como que se esquece, e faz uma comparação certo modo grotesca: o cozimento de um ovo com um cadáver sendo cremado, mas sem anel, pois, se o anel estivesse lá, já dá pra você imaginar a caca que não seria (pense por exemplo na cena de Eduard Delacroix sendo eletrocutado sem a esponja molhada). O pai queria que o anel permanecesse no dedo da esposa pois assim, é o argumento do pai, ele poderia se unir a ela no fim das contas. O filho mente pro pai, pois sabe o que realmente aconteceria, e nós, leitores, desde o começo do poema o sabemos.

Mas isso não quer dizer que o filho seja um insensível. Eu mesmo acho que existe sensibilidade até no anel ser enviado num envelope de camurça. O filho parece um insensível quando ele checa as roupas da mãe, listando-as apenas, mas, logo após ele nos revelar que está com o anel na palma da mão, ele revela como o corpo da mãe (um corpo nu, é bom lembrar, pois ele desmembra as roupas e depois fala do corpo parte por parte) vai sendo carbonizado e sendo peneirado no anel. Claro que metaforicamente, como que mostrando a vida esvaída. Mas a memória fica. O calor que crema um corpo é uma analogia grotesca, mas presumo que não absurda de ocorrer para qualquer pessoa que, sofrendo a dor da perda, resolva desanuviar um pouco a mente e de repente se veja diante de uma comparação dessas. Ela também se sustenta no sentido de que é uma analogia afetuosa. É um momento em que ambos estiveram juntos. O eu lírico parece desfalecer quando não se lembra do nome da coisa que a mãe o deixava usar pra cronometrar ovos; mas o título está aí pra nos lembrar do que era, de maneira análoga ao anel ou, indo mais a fundo, de maneira análoga à memória de sua mãe, que nunca morrerá.

Em nossa tradução, nós nos esmeramos em manter a coloquialidade do original ao mesmo tempo em que tentamos lançar um olhar maroto em sua formalidade, como, por exemplo, no sentido de não banalizar as rimas, embora, a esse respeito, a opulência rímica se deva muito mais à coloquialidade do que o contrário, de modo que, se o tradutor eventualmente não chegasse a rimas lá muito interessantes, rimas comunzonas, mas se mantivesse a coloquialidade, ele estaria, portanto, mantendo o que tem mesmo que ser mantido. (Pelo menos, claro, é assim que enxergo.)

A tradução de Alípio Correia Neto, um dos nossos maiores tradutores de poesia, com uma bagagem que vai de Shxpr a Philip Larkin, eu encontrei nesse vídeo aqui, que achei ao acaso:




(Não vai me dizer que você realmente achou que o Alípio tinha feito uma tradução só pra essa postagem, né? Nós dois somos muito amigos; o que falta é ele saber disso, mas, assim que ele souber, aí sim eu, ele e o Pedro vamos estar montando parcerias arrasadoras.)

Não sei se minha transcrição está 100%. Acho que posso ter errado algumas vírgulas ou coisas do tipo. Você passa a adolescência ouvindo Linkin Park e sua audição já não é mais a mesma. Enfim. Divirtam-se.

E ah sim. Caso algum leitor seja um floquinho de neve complexado com esse lance de ironia, eu digo que sim, tá teno. Sei que estraga a brincadeira pra muitos, mas é a vida. Se você realmente se divertiu lendo uma postagem num blog-anão como esse, talvez o floquinho de neve também seja você. Portanto, vá comprar um Super Trunfo pra jogar com o amoreco ou vá alugar uma fita de SNES.

Se Harrison, com seus posicionamentos políticos, com seu jeitão de marxista old school refratando coisas como proletariado e tal e coisa e coisa e tal; se Harrison fosse um poeta brasileiro (e o paralelo mais claro que podemos fazer seria com o Gullar de Dentro da Noite Veloz ou, na lógica da fusão entre íntimo e político, o Gullar do Poema Sujo), ele certamente seria achincalhado por setores mais enferrujados da direita de maneira muito parecida com a que ironizei mais acima. Naturalmente que aquela direita realmente propensa ao diálogo e realmente interessada em fruir uma obra de arte não cairia nessa aproximação infantil e determinística entre artista e obra, ou nessa leitura do conteúdo de uma obra como um cupcake embrulhado por alguém com TOC, o que por conseguinte a afastaria tanto dessa direita colérica quanto de uma esquerda igualmente colérica que leria a obra de Harrison e, só pra variar, organizaria um daqueles eventos chatíssimos que só a esquerda consegue fazer, envolvendo atividades lúdicas como sujar a calça sentando no chão, onde todos discutiriam a obra de Harrison, encantados pela forma como ela entende perfeitamente a realidade opressora (traduzindo: ela toca meu coraçãozinho), e usariam, com o intelecto ligado no 220, o maior número de chavões possível.

Por fim, antes que me esqueça, em 69 o Tonho deu uma volta em vários países do mundo, ajudado por um prêmio que recebera da UNESCO (Fellowship of poetry). Um desses países em que ele parou foi a pátria amada. O primeiro poema da sequência Sentences, aliás, é sobre a gente, mas nada de lá muito interesse, especialmente se nos lembrarmos que dentro dessa categoria gringos-já-pisaram-aqui nós temos uma Elizabeth Bishop (Pink Dog) ou um Joseph Brodsky (Rio Samba). No caso do Tonho, o máximo que eu citaria desse poeminha que ele escreveu é o final, que cito no original mesmo:

         for the punctual Bahia-Rio
         coaches as they come
         to the village of Milagres
         they are outcasts from
         for a quick cafezinho,
         a quick piss,
         edible necklaces
         and caged red birds. 

A gente até consegue ouvi-lo dizer: quei-fei-zin-hôw.



§

TIMER.
trad. eu.
O ouro aguenta qualquer calor, até o
que te incinera numa urna qualquer.
O envelope em camurça traz o anel,
que nem vai queimar, da sua mulher.

Meu pai mandou dizer pr'esses de Saint
James que é pra cremar junto o anel, pois
a "eternidade" nele é que garante
que ele vai se encontrar com ela, "depois".

Assinei como filho e um por um
confirmo ― avental, calça, sutiã ―

e o telefone: 6-8-8-3-1 ―
Ela tá co' anel dela? (Pausa) A-hã!

(Quentinho aqui dentro do bolso ― eu checo!)

Cinzas, rosto, mão, peito, ventre... idos
no arco eu os vi como antes via o treco
lá pra cronometrar ovos cozidos.

§

MARCADO COM S.
trad. Pedro Mohallem.
A sua massa fria foi ao forno,
bem como as outras que ele mesmo assara;
penso na luz do olhar ante o contorno
da esposa junto aos céus, radiante e clara,
na boca em chamas a moldar seu nome:
"Não Florência nem Flô, mas sempre Flora."
e no fogo em que a língua se consome,
só no sentido literal embora.
Me senti mal, pois sei que não há Céu:
da terra eu tiro o pão de cada dia;
mas ele, na ânsia de rasgar o véu
que pesava em seu corpo e a voz prendia,

hoje não cresce aos olhos de ninguém,
e a Inglaterra fez beijar o chão;
é pó, o bastante pra cegar alguém
e cinzas só para um pequeno pão.

§

A LONGA DISTÂNCIA II.
trad. Alípio Correia Neto.
Pra mãe morta há dois anos, o meu velho
punha na cama bolsas de água quente,
ao pé do aquecedor o seu chinelo
e validava o passe novamente.

Nada de aparecer por lá. Só após
ligar. Fazia esperar uma hora e isto
pra limpar tudo e parecer a sós
como se amor tão cru fosse um delito.

Fugia à praga, já não creio em nada,
certo do alívio de escutar a chave
raspar a fechadura enferrujada.
Sabia que saía atrás de chá, e voltava.

Creio que a morte é o fim, e só. Não a ida
de dois às compras, e, na nova agenda
de couro preto há o seu nome, além da
linha desativada a que eu ligo ainda.

TIMER.

Gold survives the fire that’s hot enough
to make you ashes in a standard urn.
An envelope of course official buff
contains your wedding ring that wouldn’t burn.

Dad told me I’d to tell them at St. James’s
the ring should go in the incinerator.
That “eternity” inscribed with both their names is
his surety that they’d be together, “later”.

I signed for the parcelled clothing as the son,
the cardy, apron, pants, bra, dress ―

The clerk phoned down, 6-8-8-3-1?

Has she still her ring on? (Slight pause) Yes!

It’s on my warm palm now, your burnished ring!

I feel your ashes, head, arms, breasts, womb, legs,
sift through its circle slowly, like that thing

you used to let me watch to time the eggs.

 §

MARKED WITH D.

When the chilled dough of his flesh went in an oven
not unlike those he fuelled all his life,
I thought of his cataracts ablaze with Heaven
and radiant with the sight of his dead wife,
light streaming from his mouth to shape her name,
'not Florence and not Flo but always Florrie.'
I thought how his cold tongue burst into flame
but only literally, which makes me sorry,
sorry for his sake there's no Heaven to reach.
I get it all from Earth my daily bread
but he hungered for release from mortal speech
that kept him down, the tongue that weighed like lead.


The baker’s man that no one will see rise
and England made to feel like some dull oaf
is smoke, enough to sting one person’s eyes

and ash (not unlike flour) for one small loaf.

§

LONG DISTANCE II.

Though my mother was already two years dead
Dad kept her slippers warming by the gas,
put hot water bottles her side of the bed
and still went to renew her transport pass.

You couldn’t just drop in.  You had to phone.
He’d put you off an hour to give him time
to clear away her things and look alone
as though his still raw love were such a crime.

He couldn’t risk my blight of disbelief
though sure that very soon he’d hear her key
scrape in the rusted lock and end his grief.
He knew she’d just popped out to get the tea.

I believe life ends with death, and that is all.
You haven’t both gone shopping; just the same,
in my new black leather phone book there’s your name
and the disconnected number I still call.