Cyrano de Bergerac.
Embora eu não seja lá muito de ir ao teatro — na verdade, eu só me lembro de ter ido ao teatro na infância, numa daquelas idas escolares obrigatórias — eu tenho de vez em vez alguns rompantes dramatúrgicos e me ponho a ler com muito afinco peças teatrais. E das peças que já li, como não podia deixar de ser, algumas me impressionaram de maneira muito viva. Por exemplo Leonor de Mendonça de Gonçalves Dias, a meu ver uma das melhores de nosso teatro. Ou então Cyrano de Bergerac, que, posso dizer de forma totalmente desabrida, é a minha favorita de todas.
É difícil dizer porque. Nem sempre nós somos capazes de papear sobre os livros que gostamos. Acho que com Cyrano é assim. A peça é, como diz Ferreira Gullar em seu prefácio, de um romantismo tardio. Em praticamente todos os ramos artísticos a aventura da modernidade já havia se iniciado. No âmbito teatral nós podemos nos lembrar de Ibsen, por exemplo — e sim, peças como Peer Gynt também estão entre as minhas favoritas. Aqui e ali existem instrumentos algo modernos em Rostand, como por exemplo o uso que ele faz dos alexandrinos franceses, às vezes altamente fragmentados e tentando se adaptar à boca de muitos personagens em cena: enquanto o alexandrino francês clássico servia para peças que seguiam à risca as unidades aristotélicas de composição, o que significava que quando muito você tinha umas 3 pessoas falando ao mesmo tempo, no alexandrino de Rostand, por exemplo no começo da peça, nós temos dezenas de personagens falando ao mesmo tempo e com um dinamismo mais próximo do da fala contemporânea. Claro que de modo geral a peça é toda trabalhada na tal estética tardo-romântica que apontei, mas não de forma absoluta. De todo modo, Cyrano de Bergerac foi um sucesso estrondoso. Rostand nunca mais conseguiu um sucesso parecido. Foi a primeira e única vez. Ele se tornou tipo uma versão teatral daquele tal de Arvers, que escreveu um soneto que se tornou um dos poemas mais famosos do século XIX.
Edmond Rostand nasceu em 1868, no dia da mentira, e morreu em 1918. Sua primeira peça, de 1894, Les romanesques, chegou a receber um prêmio da Academia Francesa de Letras. Mas, como eu disse, foi só com Cyrano de Bergerac, de 1897, que Rostand saboreou o que era a tal da badalação. Foi amigo, dentre outros, de Sara Bernardt, a grande atriz do fin de siècle, e escreveu peças designadas a ela. A última peça que Rostand viu ser encenada foi Chantecler, uma espécie de contraponto a Cyrano de Bergerac, que traz um galo doméstico que sonha com os valores heroicos e aristocráticos de outrora.
Rostand já pensava há um certo tempo em escrever algo sobre a lendária figura de Hector Savinien de Cyrano de Bergerac, um soldado e poeta francês que viveu no século XVIII. Ou seja, viveu durante o esplendor artístico francês, um século que contava com gente como Corneille no teatro ou Malherbe e Boileau na poesia. Na Espanha o fausto era também intenso: o país vivia seu famoso siglo del oro. Era também a época em que Descartes publicava O discurso do método e em que a Inglaterra vivia as agitações políticas da guerra civil. Foi durante essa época que Cyrano de Bergerac viveu. Exímio espadachim (dizem que ele lutou mais de mil duelos), ele publicou em 1657 uma obra denominada História Cômica dos Estados e Impérios da Lua. Ela é famosa por, além de influenciar Voltaire e Swift, ser considerada precursora da literatura de ficção científica. Foi fortemente influenciada por Rabelais, Montaigne (e seu ensaio sobre os canibais) e Thomas Moore (o da Utopia). É um relato realmente muito divertido.
A ideia definitiva para a peça só veio quando Rostand estava em Luchon e conheceu um jovem apaixonado. O problema é que esse tal jovem não sabia como embelezar seu discurso, e, portanto, não sabia como conquistar a moça. Rostand acabou lhe dando algumas aulas (tipo o que Pablo Neruda faria depois no filme) e de fato o rapaz conseguiu conquistar sua amada. Depois disso tudo o que bastava era ligar o epa!: Rostand estava encenando a história de Cyrano de Bergerac ele mesmo.
Foi aí que começou a mexer os pauzinhos e a escrever a peça. Sarah Bernardt lhe apresentou Constant Coquelin (1841-1909), um experiente ator de sua companhia que seria o intérprete perfeito para o papel. E foi mesmo. Rostand ficou amiguinho de Coquelin, e Coquelin de Rostand. Agora era ligar o turbo: dizem que em uma tarde Rostand chegou a escrever 250 versos. As preparações físicas não deixavam a desejar em intensidade: só o nariz do personagem, pra se ter uma ideia, chegou a ter 50 moldes diferentes antes que um fosse escolhido.
Aí a peça estreou em 1897 e, como dito, foi um enorme sucesso. A interpretação de Coquelin foi memorável. Podemos dizer que, à maneira de Shakespeare escrevendo seus papeis pensando em Burbage, Rostand escreveu seu Cyrano pensando em Coquelin. Não custa lembrar que, na dedicatória da peça, o poeta diz que queria dedicar a peça para Cyrano de Bergerac, mas que, como ele estava morto (duh), ele dedicaria a Coquelin. Quando Coquelin interpretou Cyrano, ele já era um ator cinquentenário, o que era um grave problema: Cyrano de Bergerac, a figura histórica, morreu com só 33 anos de idade. Daí a sisudez e a certa gravidade que o Cyrano de Rostand apresenta, bem como sua melancolia face à juventude do par Roxane-Cristiano.
O enredo da peça é mais ou menos o seguinte: Cyrano de Bergerac é um exímio espadachim e um poeta habilidoso. Ele vive se metendo em brigas, mas não porque é um fanfarrão: ele é só um paladino defensor da bondade e se guia unicamente pelos valores que acredita. É um espírito livre. Só que ele é feio: especialmente graças a seu nariz protuberante. E isso o incomoda muito... Afinal de contas, ele é apaixonado por Roxane, sua prima, que é uma moça muito bela que adora, mas adora mesmo, poesia. Só que ao ponto de flertar com o pedantismo: ela por exemplo participa de clubes de leitura (pelo jeito daqueles bem empiriquitados) e adora ir ao teatro. Aí um belo dia, no Paço da Borgonha, em 1640, a plateia está esperando pra assistir uma encenação de uma peça denominada A Clorisa. O público é uma algazarra que só, um tanto quanto mau educado e cheio de penetras e gente fuxiqueira. No meio desse povão estão quatro personagens dignas de nota: Cristiano de Neuvillete, um soldado garboso que se apaixonou por Roxane um pouco antes de ir ao teatro e que, em certa passagem do primeiro ato (que é quando todos estão esperando a peça), troca olhares por ela e se apaixona (ela também se apaixona por ele nessa hora); mas que, embora garboso e valente, é um sem-miolos quando o assunto é poesia e discurso pomposo; Le Bret, que é um amigo pessoal de Cyrano; Ragueneau, também amigo de Cyrano, dono de uma pastelaria e leitor apaixonado; e De Guiche, um militar de alta patente que tenta fazer com que Roxane se case com um sobrinho.
Assim, como o leitor deve ter percebido, três personagens concorrem ao amor de Roxane: Cyrano, Cristiano e De Guiche. Em especial Cyrano e Cristiano. Lá no segundo ato, Roxane vai confessar a Cyrano que está apaixonada por alguém, e que esse alguém é Cristiano. Como ela sabe que seu primo é casca-grossa, e como ela sabe que os gascões, que são os soldados dos quais Cyrano e Cristiano fazem parte, são meio fanfarrões, ela pede que Cyrano proteja Cristiano. Claro que Cyrano fica meio cabreiro com isso, mas acaba aceitando e tem uma ideia ainda mais genial quando encontra Cristiano — a de que, visto que Cristiano é bonito mas não sabe nada de poesia, e visto que Cyrano é feio mas sabe, que os dois se unam e ele, Cyrano, seja a voz de Cristiano. Ou seja: Cyrano treinaria Cristiano e escreveria cartas em seu lugar para que ele pudesse conquistar Roxane.
Paro por aqui. Não conto mais que isso. Fiquemos com a humilde seleção que faço. Trata-se de uma seleção de cinco passagens da peça. Todas indo até o terceiro ato. Até o terceiro pois acho que se ultrapasse esse limiar podia ser que eu desse algum spoiler pro leitor... e eu sei que tem gente que falta perder o chão se lê um spoiler. Então, fica aí esse cuidado. São seis passagens advindas de cinco traduções distintas: três brasileiras e três inglesas.
Foi aí que começou a mexer os pauzinhos e a escrever a peça. Sarah Bernardt lhe apresentou Constant Coquelin (1841-1909), um experiente ator de sua companhia que seria o intérprete perfeito para o papel. E foi mesmo. Rostand ficou amiguinho de Coquelin, e Coquelin de Rostand. Agora era ligar o turbo: dizem que em uma tarde Rostand chegou a escrever 250 versos. As preparações físicas não deixavam a desejar em intensidade: só o nariz do personagem, pra se ter uma ideia, chegou a ter 50 moldes diferentes antes que um fosse escolhido.
Aí a peça estreou em 1897 e, como dito, foi um enorme sucesso. A interpretação de Coquelin foi memorável. Podemos dizer que, à maneira de Shakespeare escrevendo seus papeis pensando em Burbage, Rostand escreveu seu Cyrano pensando em Coquelin. Não custa lembrar que, na dedicatória da peça, o poeta diz que queria dedicar a peça para Cyrano de Bergerac, mas que, como ele estava morto (duh), ele dedicaria a Coquelin. Quando Coquelin interpretou Cyrano, ele já era um ator cinquentenário, o que era um grave problema: Cyrano de Bergerac, a figura histórica, morreu com só 33 anos de idade. Daí a sisudez e a certa gravidade que o Cyrano de Rostand apresenta, bem como sua melancolia face à juventude do par Roxane-Cristiano.
O enredo da peça é mais ou menos o seguinte: Cyrano de Bergerac é um exímio espadachim e um poeta habilidoso. Ele vive se metendo em brigas, mas não porque é um fanfarrão: ele é só um paladino defensor da bondade e se guia unicamente pelos valores que acredita. É um espírito livre. Só que ele é feio: especialmente graças a seu nariz protuberante. E isso o incomoda muito... Afinal de contas, ele é apaixonado por Roxane, sua prima, que é uma moça muito bela que adora, mas adora mesmo, poesia. Só que ao ponto de flertar com o pedantismo: ela por exemplo participa de clubes de leitura (pelo jeito daqueles bem empiriquitados) e adora ir ao teatro. Aí um belo dia, no Paço da Borgonha, em 1640, a plateia está esperando pra assistir uma encenação de uma peça denominada A Clorisa. O público é uma algazarra que só, um tanto quanto mau educado e cheio de penetras e gente fuxiqueira. No meio desse povão estão quatro personagens dignas de nota: Cristiano de Neuvillete, um soldado garboso que se apaixonou por Roxane um pouco antes de ir ao teatro e que, em certa passagem do primeiro ato (que é quando todos estão esperando a peça), troca olhares por ela e se apaixona (ela também se apaixona por ele nessa hora); mas que, embora garboso e valente, é um sem-miolos quando o assunto é poesia e discurso pomposo; Le Bret, que é um amigo pessoal de Cyrano; Ragueneau, também amigo de Cyrano, dono de uma pastelaria e leitor apaixonado; e De Guiche, um militar de alta patente que tenta fazer com que Roxane se case com um sobrinho.
Assim, como o leitor deve ter percebido, três personagens concorrem ao amor de Roxane: Cyrano, Cristiano e De Guiche. Em especial Cyrano e Cristiano. Lá no segundo ato, Roxane vai confessar a Cyrano que está apaixonada por alguém, e que esse alguém é Cristiano. Como ela sabe que seu primo é casca-grossa, e como ela sabe que os gascões, que são os soldados dos quais Cyrano e Cristiano fazem parte, são meio fanfarrões, ela pede que Cyrano proteja Cristiano. Claro que Cyrano fica meio cabreiro com isso, mas acaba aceitando e tem uma ideia ainda mais genial quando encontra Cristiano — a de que, visto que Cristiano é bonito mas não sabe nada de poesia, e visto que Cyrano é feio mas sabe, que os dois se unam e ele, Cyrano, seja a voz de Cristiano. Ou seja: Cyrano treinaria Cristiano e escreveria cartas em seu lugar para que ele pudesse conquistar Roxane.
Paro por aqui. Não conto mais que isso. Fiquemos com a humilde seleção que faço. Trata-se de uma seleção de cinco passagens da peça. Todas indo até o terceiro ato. Até o terceiro pois acho que se ultrapasse esse limiar podia ser que eu desse algum spoiler pro leitor... e eu sei que tem gente que falta perder o chão se lê um spoiler. Então, fica aí esse cuidado. São seis passagens advindas de cinco traduções distintas: três brasileiras e três inglesas.
A primeira delas, na tradução de Ferreira Gullar, está logo no primeiro ato. É quando Cyrano está tumultuando a apresentação teatral de Montfleury. Em certo momento aparece um nobre que acha aquilo tudo um absurdo e resolve tirar satisfação com Cyrano. Um erro fatal. O nobre sabe que se falar do nariz de Cyrano é briga na certa, só que Cyrano resolve simplesmente sambar na cara do nobre. Ele primeiro zomba da capacidade intelectual dele — e essa fala do nariz é justamente sobre isso, ou seja, Cyrano diz que ele não tem neurônios o bastante pra sequer ofendê-lo de forma criativa — e depois de suas capacidades físicas, na famosa cena do duelo, quando Cyrano luta com o nobre e compõe uma balada clássica ao mesmo tempo.
Essa tradução de Gullar foi realizada para a montagem de Flávio Rangel em 1985, que contava com Antonio Fagundes como Cyrano, Monalisa Lins como Roxane e Antoine Rovis como Cristiano, e que tinha cenários do grande Gianni Ratto. Foi a primeira vez que encenaram Cyrano de Bergerac no país. Como se trata de uma peça cara de ser montada, visto que possui muitos personagens, cenários complexos e tal e tal, algumas passagens foram cortadas, muitos atores menores foram fundidos e por aí vai. Assim, por exemplo, o coro de freiras que abre o quinto ano foi suprimido. Mas Gullar se saiu muitíssimo bem. Sua tradução é espetacular — nos dois sentidos do termo. Ele conseguiu uma fluência maravilhosa, mas não descuidou da poeticidade do texto nem de seus laivos românticos. Gullar usou, ao invés dos alexandrinos franceses rimados em forma de dístico, que é o padrão clássico do teatro francês, usado por Corneille, Molière e Racine, um verso decassilábico com rimas consonantais ou toantes sem uma ordem certa. Isso cria um efeito de surpresa ao longo do texto que ajuda a abrandar um pouco aquele ritmo meio romântico que o original de Rostand apresenta só de se valer dessa forma — mas Gullar conseguiu compensar essa perda rítmica graças a seu manejo excepcional do verso rimado e de seu ouvido quase que indefectível. A passagem que escolhi — que, assim como todas as outras, buscou ser uma passagem que mostrasse do que de melhor houvesse de cada tradutor — consegue mostrá-lo muito bem, visto que é uma passagem que precisa ser traduzida de maneira engraçada e ao mesmo tempo bastante inventiva.
A próxima passagem é um pouco depois desta cena do nariz, já terminada a algazarra, quando Cyrano está sozinho com seu amigo Le Bret. Le Bret sabe que Cyrano gosta de alguém, mas não consegue imaginar quem. Ele pergunta ao amigo quem essa pessoa é e Cyrano lhe responde quem: Roxane. A passagem que traduzo, que na verdade são duas, são as respostas que Cyrano dá: primeiro descrevendo seu amor (numa maneira que já prenuncia o gosto poético de Roxane) e depois descrevendo sua compleição física. Um arroubo poético seguido de uma profunda melancolia. É bonito.
A tradução trazida é de Brian Hooker, que traduziu a peça na década de 20. O verso que Hooker se utilizou foi a mighty line, ou seja, o pentâmetro jâmbico branco embebido da tradição dramatúrgica elisabetana. Seria mais ou menos como traduzirmos a peça usando as redondilhas de Gil Vicente. É uma tradução bem sucedida, em especial por se valer de uma correspondência funcional e não uma correspondência formal. Citei o exemplo de Gil Vicente mas, a bem da verdade, Gullar também se aproximou de um raciocínio análogo ao de Hooker, uma vez que o que o fez escolher o decassílabo e não o alexandrino foi o fato de que, segundo ele, o decassílabo se ajustava melhor a nossos ouvidos (e de fato o verso decassilábico, em português, corresponde à nossa capacidade torácica média).
A terceira passagem que trago está no segundo ato. Cyrano acabou de receber o pedido de Roxane, então ele estava meio abalado. Pois o esquema foi mais ou menos o seguinte: no final do primeiro ato, depois do Cyrano dar o pé-na-bunda no tal nobre que lhes falei, e depois dele conversar com Le Bret, ele recebe a ama de Roxane lhe dizendo que Roxane queria falar com ele. Cyrano só falta explodir de emoção. E aí ele sai nas ruas noturnas da cidade e se mete numa briga homérica, no que inclusive chega a machucar a mão. E essa briga homérica cai na boca do povo e todos querem saber quem foi o autor — embora todos já soubessem. Aí o Cyrano recebe o pedido da Roxane e fica triste, muito triste. Quando ela vai embora, ele recebe uma chusma de poetas, pessoas ilustres e soldados querendo saber o que houve naquela noite. Ele ainda está meio desanimado e puto com a vida, mas aí ele recebe De Guiche, que tenta ajudar Cyrano, dizendo que talvez consiga um patrono para sua poesia, mas que para isso ele, Cyrano, teria de concordar no tal do patrono mexer em alguns dos seus versos. Cyrano fica nervoso com De Guiche, dá-lhe uma má resposta e seu humor melhora. Mas antes disso, De Guiche pede pra que ele apresente quem eram aqueles soldados, e Carbon de Castel-Jaloux, que era o chefe da Companhia militar, pede a Cyrano que apresente quem eram os soldados a De Guiche.
O resultado é este poema rimado que lhes apresento, a meu ver o mais saboroso de toda a peça, embora a peça também possua outros — por exemplo a balada-batalha que Cyrano compõe ou então a receita-poema que Ragueneau compõe também no segundo ato. A tradução que trago aqui é a de Christopher Fry, que adaptou a peça em 1975. Fry foi um dramaturgo habilidoso que deu prosseguimento ao desafio eliotiano de repraticar o teatro em versos. Embora ele não tenha conseguido resultados tão promissores quanto os de Eliot nem tão bons quanto os de Brecht ou Lorca, ele possui um certo lugar cativo comigo, em especial graças a algumas metáforas que ele engenhosamente, tendo em vista a dinâmica teatral, conseguiu incutir. Sua tradução foi feita em heroic couplets, que são meio que a forma mais óbvia de se traduzir os alexandrinos franceses clássicos. Pois os heroic couplets, embora remontem a Chaucer, foram sedimentados mais ou menos na mesma época que os alexandrinos franceses clássicos (que também são mais antigos que o século XVIII: eles foram usados nas canções de gesta, pra se ter uma ideia). Então a solução de Fry me pareceu excelente, e o resultado dele realmente é muito feliz.
A quarta passagem é logo após esta. Cyrano apresenta os cadetes pra De Guiche — depois briga com De Guiche — e depois recebe uma bronca de Le Bret, que lhe diz que Cyrano não deveria ter feito o que fez. Cyrano se pergunta porque não e chega a essa resposta maravilhosa. A tradução que trago aqui é a de Carlos Porto Carreiro, feita no início do século passado: 1907. Quem quiser uma ideia bastante próxima do que é ler o original de Rostand pode recorrer a esta tradução, que Ivo Barroso aclama como sendo estupenda, de uma fidelidade impressionante. E de fato ela é. Por mais que tenha envelhecido, o que não chega a ser um defeito pois traduções acabam envelhecendo mesmo, e embora sua capacidade dramatúrgica, por conseguinte, esteja bastante mirrada, é uma tradução muito bem realizada, de uma competência extraordinária. A passagem que trago para o leitor é, creio, uma das que menos envelheceram. Ao que me consta, em edições infantis — por exemplo a adaptação de Rubem Braga para a Scipione — trazem essa passagem na tradução de Porto Carreiro.
A penúltima passagem que trago está no terceiro ato. Cyrano está a todo vapor tentando ajudar Cristiano a conquistar Roxane. E aí, carta vai, carta vem, Roxane chama Cristiano pra que conversem cara a cara. Isso deixa Cristiano atônito, pois ele não consegue falar. Mas ele estava meio confiante pois, julgava, o treinamento com Cyrano já o havia habilitado. Ledo engano. Ele vai falar com Roxane e é um horror. A paquera dos dois quase chega ao fim. Quase pois, na mesma noite, Cyrano chama Cristiano pra que ambos se postem sob a janela de Roxane e, enquanto Cyrano, que ficaria escondido, iria soprando pra Cristiano as falas, ele, Cristiano, iria dizendo-as em voz alta e assim reconquistando seu amor. Tudo ia muito bem, mas o problema é que Cristiano tinha dificuldades de entender o que Cyrano estava dizendo, e aí Cyrano resolve se pôr no lugar de Cristiano, imitar sua voz e se aproveitar do fato de que estava escuro e Roxane, afinal de contas, não podia enxergá-lo. Aí fica fácil: é só Cyrano dizer o que realmente sente mas fingir que quem o dizia era Cristiano. O resultado é uma declaração de amor esplêndida.
A tradução que trago é a de Anthony Burgess, o autor de Laranja mecânica. Se o leitor ficou surpreso, eu também fiquei quando soube que Burgess traduziu essa peça tão romântica e certo modo melosa. Pelo menos a princípio, é claro. Cyrano de Bergerac nos encanta por mil e uma passagens, e as passagens românticas são apenas uma parte. É uma peça, por exemplo, engraçadíssima — e Burgess se esforçou em recuperar seu humor — e que também possui momentos de devastação (por exemplo quarto ato) ou de desolação (por exemplo o quinto e seu esplêndido final: panache). Burgess se valeu de um verso com cinco acentos, sem nenhum número muito definido de sílabas (ele chega até a citar o sprung rythm de Hopkins como fundamento) e com esquema rímico também indefinido, embora alerte que nas passagens mais longas ele se esforçou em manter a constância dística. Creio que se tivesse escolhido uma passagem cômica o leitor poderia ter uma noção mais exata do alcance da tradução de Burgess, mas preferi um momento lírico pra mostrar que ele mandou muitíssimo bem aqui também. É um resultado que, considerando a radicalidade do projeto tradutório, que buscava a inteligibilidade acima de tudo — a tradução de Burgess foi usada de legenda para o filme de Rappeneau (com Gèrard Depardieu no papel de Cyrano) —, pode ser posto ao lado do projeto de Gullar, não sendo à toa que até meio próximos: a tradução de Burgess foi feita primeiro em 1970 e depois ressuscitada em 1983, com Derek Jacobi no papel de Cyrano.
Já a última passagem, também da mesma cena, é o resultado da força-tarefa Cyrano e Cristiano. Roxane fica simplesmente deslumbrada e decide se entregar a seu amor, no que pede pra que Cristiano suba à sua janela e lhe beije. Cyrano ainda tenta dar uma espécie de enrolada pra que o momento tão temido (um outro beijar sua amada) não chegue mas, no fim das contas, acaba deixando que Cristiano suba. É um momento triste, sem dúvidas. Essa enrolada de Cyrano, que me referi, e que na verdade é uma hesitação com pontada de angústia, é precisamente a passagem que trago. A tradução trazida eu a achei por acaso num livro de 1927, uma antologia de José Vieira Pontes. O título da coletânea é "Lyra popular brasileira", mas isso não quer dizer que tenhamos poemas populares feitos por brasileiros, e sim que temos uma compilação de poemas que são populares no Brasil, o que explica a inclusão de autores estrangeiros (além do próprio Rostand, temos François Coppé e Edgar Allan Poe, para além dos portugueses) e poemas longos (por exemplo O cântico do calvário de Varela). Não sei mais nada a respeito da tradução: por exemplo o ano em que foi feita ou se ela se limitou a traduzir somente esta passagem ou não. Nota-se um recorte bem típico do fin de siècle nela, digo até mesmo uma procedência lusitana, um e outro vistos por exemplo na preferência por verbos no infinitivo substantivados (sempre mais fáceis de manejar quando o metro é o alexandrino francês), em rimas como "confirmação" e "affeição" (quem rimaria com "afeição" depois disso?) ou em expressões como "volupia louca" (um pleonasmo que poucos depois disso, mesmo diante da necessidade rímica, incorreriam).
E assim chegamos ao fim. Não tentei nada de minha parte pois não acho que seria capaz de fazer algo que preste num texto que requisitasse conhecimentos avançados de francês. Mesmo porque acho que vocês estão em ótima companhia. Divirtam-se.
P.S.(03/02/17): Adicionadas duas novas traduções, ambas da pena de Ricardo Gonçalves e ambas para trechos antes comentados. Ele não chegou a traduzir a peça toda; José Paulo Paes, em seu precioso ensaio sobre a tradução no Brasil, informa que ele traduziu apenas algumas cenas.
§
P.S.(03/02/17): Adicionadas duas novas traduções, ambas da pena de Ricardo Gonçalves e ambas para trechos antes comentados. Ele não chegou a traduzir a peça toda; José Paulo Paes, em seu precioso ensaio sobre a tradução no Brasil, informa que ele traduziu apenas algumas cenas.
■
ATO I
■
trad. Ferreira Gullar.
Editora José Olympio, 2ª ed, 2011, p. 45-46.
CYRANO:
É muito pouco, jovem. A dizer
de meu nariz há tanta coisa que
se torna até difícil escolher...
Basta fazê-lo variando o tom!
Por exemplo, agressivo: esse nariz
de tão grande, dá ganas, de cortá-lo!
Amigável: se bebes numa taça
inevitavelmente vais molhá-lo!
Descritivo: esse apêndice notório
parece um cabo, um pico, um promontório!
Curioso: é um estojo de tesoura?
um pimentão? um nabo? uma cenoura?
Prático: quem possui tal narigão,
se vai caçar, não necessita cão.
Rude: enquanto espirra com rapé,
alguma coisa se mantém de pé?
Engraçado: se entra num viveiro,
os pássaros o fazem de poleiro?
Prudente: com uma tromba tão pesada,
pode cair de cara na calçada!
Grosseiro: tem mais osso ou mais toucinho?
Terrorista: tamanho é o fumaceiro
que solta quando fuma que o vizinho
chama depressa o corpo de bombeiros!
Eis aí, seu cretino, o que teria
dito uma pessoa menos bronca,
mais dotada de letras e de humor.
Mas nunca um animal que apenas ronca
destituído de qualquer fulgor
da inteligência. E ainda que pra tanto
dotado fosses de engenho e arte,
não o terias dito, de covarde
que és. E além disso não existe
ninguém capaz de repetir-me um chiste
desses, pois sua língua a cortaria.
■
trad. Brian Hooker.
Editora Bantam Classics, 2004, p. 48-49.
CYRANO:
Dangerous
Mortally, without meaning; exquisite
Without imagining. Nature's own snare
To allure manhood. A white rose wherin
Love lies in ambush for his natural prey.
Who knows her smile has known a perfect thing.
She creates grace in her own image, brings
Heaven to earth in one movement of her hand —
Nor thou, O Venus! balancing thy shell
Over the Mediterranean blue, nor thou,
Diana! marching through broad, blossoming woods,
Art so divine as when she mounts her chair,
And goes abroad through Paris!
(...)
CYRANO:
My old friend — look at me,
And tell me how much hope remains for me
With this protuberance! Oh I have no more
Illusions! Now and then — bah! I may grow
Tender, walking alone in the blue cool
Of evening, through some garden fresh with flowers
After the benediction of the rain;
My poor big devil of a nose inhales
April... and so I follow with my eyes
Where some boy, with a girl upon his arm,
Passes a patch of silver... and I feel
Somehow, I wish I had a woman too,
Walking with little steps under the moon,
And holding my arm so, and miling. Then
I dream — and I forget...
And then I see
The shadow of my profile on the wall!
■
ATO II
■
trad. Christopher Fry.
Editora Oxford UP, 1975, p. 52-53.
These are the Gascony cadets,
The men of de Castel-Jaloux;
Liars and layers of bets,
These are the Gascony cadets!
Bragging of crests and coronets,
And all the blood in them is blue!
These are the Gascony cadets,
The men of de Castel-Jaloux!
Hawk-eyed, with whiskers like a cat's,
Their long legs like a marabou,
They bully mobs with no regrets,
Hawk-eyed, with whiskers like a cat's,
They swagger in their ancient hats
With plumes to hide the holes from view,
Hawk-eyed, with whiskers like cat's,
Their long legs like a marabou!
Here are the Gascony cadets
Who make the jealous go cuckoo!
Women, adorable coquettes,
Here ate the Gascony cadets!
Old husband's don't know what to do:
Sound the trumpet, cry To-woo!
Here are the Gascony cadets,
Who make the jealous go cuckoo!
Pity the enemy who gets
Between a Gascon and the view,
For when he settles ancient debts
He doesn't stop at empty threats
But storms across the parapets
With awful deeds of derring-do!
Here are the Gascony cadets,
The men of de Castel-Jaloux.
■
trad. Carlo Porto Carreiro.
Editora Abril Cultural, 1976, p. 129-130.
CYRANO (interrompendo-o)
Que queres que eu te faça?
Que vá ver um patrono em voga, um protetor,
E — como hera servil em busca de tutor
Lambe a casca do tronco em roda ao qual se torça —
Cresça por manha, em vez de me elevar por força?
Obrigado. Ofertar meus versos a um banqueiro,
Como é vulgar? Fazer do vil pantomimeiro
Na esperança de ver nos lábios dum ministro
Sorriso que não tenha uns longes de sinistro?
Almoçar cada dia um sapo — e não ter nojo,
Gastar o próprio ventre a caminhar de nojo?
Obrigado. Trazer os joelhos encardidos?
Exercitar a espinha em todos os sentidos?
Obrigado. Acender um círio a São Miguel
E acender outro círio ao réprobo Lusbel?
Libertar o galé, com medo do patíbulo?
Andar a cada canto e sempre de turíbulo?
Obrigado. Galgar trapézios de acrobata?
Ser um grande homenzinho em roda aristocrata?
Remar com os madrigais, e ter as bujarronas
Túmidas dos senis suspiros das matronas?
Obrigado. Gozar de sermos editado
Pelo editor Sercy... pagando-lhe? Obrigado.
Se escolhido papa em todos os conclaves
Feitos por imbecis tão nulos quanto graves?
Obrigado. Assentar meu nome e posição
Num tal soneto, em vez de fazer outros? Não!
Obrigado. Encontrar talentos nos sendeiros,
Aterrar-me de ouvir estranhos noveleiros
E sentir um prazer na reles esperança
De ter qualquer menção no Mercúcio de França?
Obrigado. Antepor — de medo e covardia —
Salamaleque infame a rútila poesia?
Redigir petições e pertencer a alguém?
Obrigado! Obrigado! Obrigado! . . . Porém
Cantar, sonhar, passar, ter liberdade e fibra,
Ter a vista segura, e ter a voz que vibra,
Pôr o meu feltro à banda, e — espanto dos perversos —
Por um sim por um não bater-me, ou fazer versos;
Trabalhar, sem ter fito em lucros e honrarias,
Numa excursão à lua e noutras fantasias!
Nada escrever jamais que eu mesmo não produza,
E, modesto, dizer à minha altiva musa:
"Seja do teu pomar — teu próprio — o que tu colhas;
Embora fruto, flor ou simplesmente folhas."
Depois, se acaso a glória entrar pela janela,
A César não dever a mínima parcela,
Guardar para mim a gratidão mais pura;
Enfim, ser ser a hera — a parasita obscura —
Nem o carvalho e o til — gigantes do caminho —
Subir, não muito, sim, porém subir sozinho.
§
trad. Ricardo Gonçalves
Antologia de poetas estrangeiros, Logos, 1960, p. 188-189.
Mas que fazer então?
Buscar um protetor poderoso, um patrão?
Ser como a hera que enlaça o carvalho robusto,
E lambe-lhe a cortiça e trepa então sem custo?
Usar, para atingir o cimo desejado,
de astúcia em vez de força? Oh! Não, muito obrigado.
Entrar para o canil dos poetas rafeiros,
Como eles dedicar versos aos financeiros
E fazer de bufão para que um potentado
Haja por bem servir? Oh! Não, muito obrigado.
Almoçar, cada dia, um sapo sem ter nojo,
Rustir o ventre por andar sempre de bojo,
Ter a rótula suja e fazer menos mal
Prontas deslocações da coluna dorsal?
Não, obrigado. Trazer o incensório suspenso
A um ídolo que viva entre nuvens de incenso?
Ganhar celebridade, aplausos e coroas
Num círculo de trinta ou quarenta pessoas?
Navegar, tendo em vez de remos madrigais
E, a tufarem-se a vela, os suspiros fatais
Das velhas, num derriço? Não, muito obrigado.
Ganhar fama de autor por haver publicado
Meus versos, mas pagando o livro aos editores?
Não, obrigado. Viver de esmolas e favores,
Como fazem alguns sandeus? Ver se alcanço renome
Com um soneto, se tanto, em vez de fazer mil,
Achar muito talento em qualquer imbecil?
Não, obrigado. Ter medo aos jornais, ser amigo
De elogios, dizer de mim para comigo:
“Ah, se o meu nome sair no jornal deste mês”!...
Calcular, ter na face impressa a palidez
Dos poltrões, preferir fazer uma visita
A bordar, carinhoso, uma estrofe bonita,
Ser da matilha, hedionda e vil, dos pretendentes,
Redigir petições e mendigar presentes?
Não, obrigado. Não, obrigado. Não, obrigado.
Mas...cantar. Mas viver num sonho alcandorado,
Calmo e feliz, o olhar seguro, a voz vibrante,
De quando em vez e, por capricho, petulante,
Por de trevés o feltro, e por um quase nada,
Dar um beijo na Musa ou dar uma estocada.
Nem um verso escrever que a mim me não pertença,
E apesar disso tudo, uma modéstia imensa:
Pagar-me com uma flor, ou um fruto apetecido,
Contanto que no meu pomar seja colhido,
E se enfim algum triunfo vier, mediante a sorte,
Não devê-lo a algum César por ser parte da corte.
E, em suma, desdenhando a hera vil que se esconde,
Não conseguindo ser o roble, cuja fronde
Mora perto do Azul e distante do pó,
Subir pouco, mas só, completamente só.
■
ATO III
■
trad. Anthony Burgess.
Editora NHB, 2009, p. 98 e 101.
CYRANO:
A disembodied spirit, clean
Of the clogs of accident and decay. You see
A cloak of trailing blackness; you to me
Are a white gown of summer. I am a shadow
And you the quintessence of light. How can you know
That it means to roam this transitory meadow
Sunlit throught the darkness? If ever — oh,
If ever I was eloquent —
(...)
CYRANO:
In that most precious
Instant, I shall take all words that never were,
Or weren't or could, or couldn't be, and in
Mad armfuls, not bouquets, I'll smother you in them.
Oh God, how I love you, I choke with love, I
Stumble in madness, tread a fiery region
Where reason is consumed, I love you beyond
The limits that love sets himself, I love,
I love. Your name, Roxane, swings like a brazen
Bell, telling itself — Roxane, Roxane —
In my heart's belfry, and I tremble —
Roxane, Roxane — with each bronze, gold,
Silver reverberation. (...)
■
trad. Julia Dantas e Manoel Penteado.
Lyra popular brasileira, Editora C. Teixeira & Cia, 1927, p. 244-245. Aqui.
CYRANO:
Beijo. A palavra sorri
e queima-se detrás do labio que a deseja.
Beijo a brincar na bôca e bôca que não beija,
porque o pudor retrae esse desejo louco...
Sem querer, sem sentir, via-a desfolhar ha pouco
a flôr do galantejo, e passar n'um encanto
do sorrir ao suspiro e do suspiro ao pranto!
Aclare um pouco mais a luz do sentimento:
nas lagrimas um beijo, é um deslumbramento!
E afinal o que é um beijo? Um céo aberto.
Juramento d'amor, feito mui de perto!
Numa promessa linda uma confirmação.
Ponto roseo a cahir no i d'uma affeição.
Segredo que se diz a uma bôca vermelha.
Num ponto d'infinito um ruido d'abelha...
E' uma communhão com um sabor de rosas.
O respirar subtil das almas amorosas;
O precioso subir d'um coração á bôca...
Luz que do labio sae, numa volupia louca!
§
trad. Ricardo Gonçalves
Antologia de poetas estrangeiros, Logos, 1960, p. 189.
Um beijo, mas, enfim, que grande coisa é essa?
Jura que de mais perto é jurada, promessa
Mais clara, confissão que quer confirmação,
Ponto róseo no "i" da palavra paixão.
Segrêdo que se diz à bôca em vez da orelha,
Instante do infinito em sussurro de abelha,
Com ressaibos de flor amável comunhão.
Modo de respirar um pouco o coração
E de provar um pouco, à flor dos lábios, a alma!
■
A produção de 1985, com Derek Jacobi. Tradução de Burgess. Cena do No, thank you! É uma atuação esplêndida.
■
Da produção de 1950, com José Ferrer no papel de Cyrano. A cena do nariz e a balada-batalha. Tradução de Hooker.
■
Cena do balcão numa gravação feita pela BBC em 2008 com Kenneth Branagh no papel de Cyrano. Tradução de Burgess.
■
Do filme de Rappeneau, 1990, com Depardieu no papel de Cyrano. Da cena do pedido de Roxane a Cyrano para que proteja Cristiano.
■
Rara gravação de 1900 com Coquelin no papel de Cyrano.