Aquela vida à margem do impossível.


(Nem toda poesia coube aqui... Ainda bem! Créditos.)



Sucintamente, saiba que Goiânia é a 28ª cidade mais violenta do mundo (aqui) e que, nas semanas recentes, a histeria se apossou da cidade (aqui), claro que não sem razão se considerarmos que tivemos dias onde, em menos de 12 horas, dez pessoas foram assassinadas (aqui), ou se considerarmos que batemos, ano passado, o recorde de homicídios (aqui aqui). O que a poesia goiana (amplio do âmbito da goianiense) teve e tem a nos dizer sobre isso seria algo como o que se lê abaixo. Só lembrando que não tenho muitos livros ao alcance da mão, o que pode explicar algumas omissões e más escolhas. Noutros casos, confesso que forcei a barra do contexto do poema, como seria o caso de um Afonso Félix de Sousa ou de um Gilberto Mendonça Teles, onde a nota participativa não é mestra em seus poemas. Mas de resto, a poesia publicamente panfletária ou participativa (como seria o molde da maior parte da poesia dum José Godoy Garcia) não possui o monopólio da crítica da situação contemporânea, e a urgência e a pluralidade de nossas necessidades mais uma vez não nos dão o aval de recusarmos qualquer coisa que nos encaminhe, seja por qual caminho for, à constatação lúbrica de Mendonça Teles em Etnologia: "Ainda // há índios."


FINAL DO GOYANIA.
Manoel Lopes de Carvalho Ramos.
(...)

Morrer! Quando esta vida é toda amôres!
Quando, entre as rosas da manhã serena,
Suspira a jurity na selva amena,
Adeja o beija flôr beijando as flôres!
Morrer! Da ideia negra que envenena 
Ao precipicio caminhar de horrôres!
No coração, que a treva desespera,
Ver extinguir-se a luz da primavera!

Morrer! Quando a folhagem que murmura
Presta suave sombra ao doce amado!
Quando brilhante o leito do noivado
E‟ como um cofre aberto á formosura!
Quando sómente o enfermo é desgraçado!
Quando escarmenta o colhe a sepultura!
Deixar tudo e partir... Cahir sosinho
Cadáver! Sombra! Em meio do caminho!

Taes pensamentos negros scintillaram
No cerebro da indígena piedosa,
Cuja paixão suprema em dor penosa
Idéias mil oppostas transformaram.
Turva-lhe a vista gfelidez pasmosa
De Anag... e os passarinhos se calaram...
Naquelle instante aspérrimo e sombrio
Nem brilha mais o céo, nem falha o rio...

Era supremo o acaso, a dôr terrivel,
E findo estava o quadro da agonia:
Sem forças quasi a indigena acolhia
Aquella vida á margem do impossivel:
E assim, olhando a face quase fria
Que estreita, com disvello intraduzivel,
Guayra ri, soluça, e a voz discerra:
– Morto! Morto! – Suspira e cahe por terra.


NO BANQUETE.
Leo Lynce.
Do alto dos seus bordados, o general falou:
– Meio século, senhores, a serviço da Pátria.
Falaram depois o doutor e o magnata.
Outros mais falaram no banquete da vida nacional.
Só o roceiro miúdo não falou nada.
Porque não sabia nada,
Porque estava ausente,
perrengado,
indiferente,
curvado sobre o cabo da enxada,
com o Brasil às costas.


TODAS AS VIDAS.

Cora Coralina.
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau olhado, acocorada ao pé do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
macumba, ferreiro.
Ogã, pai-de-santo…

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho,
seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilhada de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos.
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera das obscuras.


Afonso Félix de Sousa.
As bocas fossem outras, que falassem
de terras, mas não esta,
onde a beleza, eterna, perderia
os homens só por vê-la,
e ouvir não fosse ouvir tantas perguntas
a medo murmuradas,
mas a que espero há muito, uma resposta
que fale mais que a música.
A vida, a que sonhamos em segredo,
palpá-la com um gesto
de fogo, de poesia, de loucura,
e mansos, em espumas,
cantassem aleluias dentro da alma
os anjos dominados.
Toquei em muitos seres, tantas coisas
por mim tocadas foram,
que, como vento, levo – mas suave –
um beijo, um arrepio.
Mas como te alcançar com mãos de pluma
se as aves são de carne?
Fugir, fugir ... de mim e desta sede,
pois fonte alguma basta,
e ser, no húmus do amor, uma semente
rompendo o escuro e o duro.
E cresçam. Crescei, árvores, milagres
em terras, mas não esta,
onde a beleza eterna seja, e a vida
ganhássemos por tê-la.


OS SOBREVIVENTES.
José Godoy Garcia.
Quando todos imaginavam a vida sem sentido
chegaram de manhã os sobreviventes,
e levantaram suas moradas, estiveram no rio,
procuravam o rebanho disperso, preparavam
o alimento, cantavam, derramavam
o suor nos campos, faziam fogo à noite
rememoravam o corpo de suas mulheres,
despachavam os barcos, pela manhã.
As chuvas eram sempre bem-vindas,
as chuvas levantavam o pó da terra
e enchiam de confiança a face da vida.
As mulheres viam nascer dentro de si
um novo rebento, os seus ventres cresciam.
Nenhum sinal de confiança quando as mulheres
apareciam de ventre crescido.
Os dias eram os mesmos, a esperança
e a desesperança eram as mesmas.


AQUI E AGORA.
Gilberto Mendonça Teles.
Procuro o aqui e o agora,
o agoraqui, o que já foi
e continua: a cor de outrora
no couro curtido de um boi.

Procuro o que está sendo,
o que se acende, o que se apaga,
o acontecido acontecendo,
sombra de peixe fora d'água.

Procuro o que figura
no que perdi te procurando,
o que se gastou na usura
do que me vem de vez em quando.

Procuro o que projeto
além de mim, no que me sobra:
talvez a sombra de um inseto
na plantação da minha obra.

Procuro o procurar-te,
o que sempre fiz e não sei.
Talvez o aqui e o agora, a parte
do que ficou fora da lei.


ESCAPE.
Darcy França Denófrio.
Conheço a distância
que vai entre o sonho
e a dura realidade.

E conheço a fórmula
de amortecer o susto
e a queda do último piso.

Olhar sem crer lá fora
esse vidro que corta
e fechar, atrás de si, a porta.

Plantar, como sempre faço,
essas flores no paredão do muro
para deslumbrarem os meus olhos.

E, nessa lente distorcida,
em que capto a beleza,
mesmo aquela que não existe,

ficar musgo sobre a rocha
— véu veludoso verde veludo —,
cobrindo essa faca que cega o corte.


RODANDO BOLSINHA.
Yêda Schmaltz.
Venho me deitar com a minha paixão.
Minto. Minha paixão está perambulando
por aí, pelas livrarias.
(Ou estaria, na Avenida Goiás,
rodando bolsinha?)
Venho me deitar sozinha,
na verdade, e a minha paixão
é só minha.

(O dono da paixão, que não nego,
mais do que o deus do amor,
é cego.)
O amor,
com sua posição de bêbado
morti
ficado.

ELEGIA FEITA NO CÁRCERE.
José Décio Filho.
Eu conheci a noite
no segredo de todos os seus tormentos.
Vi também as auroras
vestidas de orvalhos.

Os animais — entes meus irmãos
me contaram os mistérios
de minha mãe terra.
Os peixes estão dormindo
no seio escuro das águas.
Os pássaros estão cantando
para acalentar minha tristeza
que é o peso do mundo.

Do seio profundo do sol
busquei para meus olhos
essa luz inextinguível.

Fruí teus beijos
e de tantas outras,
que nem sei quem o amor
há de me trazer
para o meu eterno consolo.

Não estou cansado,
mas os homens que tanto amei
me algemaram à solidão.
Vou encontrar a mim mesmo
no fundo da minha origem,
eu voltarei um dia.


POEMA 11 DE A ORDEM DA INSCRIÇÃO.
Heleno Godoy.
A ordem das coisas não impõe
só um limite, pode impor vários,
como os das paredes de uma casa,
internas como também externas.

Quadrados que se circunscrevem
contraditoriamente, uma parede
interna se opõe, mas complementa,
uma outra que a abarque, externa-

mente. Se alguém chora em um dos
quartos e o som desse choro ultra-
passa uma parede, estende-se, rever-
bera lá fora, na mais externa delas,

e ainda é audível, constrói-se a sant-
idade do silêncio quebrado, limites
transpostos, a eterna chama que am-
para a prática da próxima convivência.


TARDE CINZENTA.
Geraldo Coelho Vaz.
Tenho medo da tarde cinzenta
porque ela me traz
um enorme desejo de ser infeliz.

E nesse instante,
mais que um instante,
a voz grave do coração
me cerca e procuro fugir.

Os sinos da minha terra
gritam o pavor corpóreo
do homem que desconheço
e o horror da vida
e do mistério
que sempre me acompanham.

Tenho medo da tarde cinzenta.


CONTEMPORIZAR.
Aidenor Aires.
Não sei por que
não me acostumo
ao morrer cotidiano das coisas.

Vivo num tempo de morte
e as caras me assombram
como túmulos.

O poeta nasceu para
as grandes resignações
ou para os grandes desesperos.

Não há omissão na poesia.
Há de haver sempre tempo
para a resignação
e tempo para a revolta.

Há os que sonham
jardins sobre as cinzas,
há os que geram cinzas
sobre as flores...
Meu tempo é só de cinzas,

Um animal enorme
devorou as flores.


CAMINHO.
Luiz Fernando Valladares.
Insidiosos
corpos nossos
— O cão que lambe as mãos
lambe a carne
e deseja os ossos

A lista
inumerável do mundo à vista
— A morte invisível
enlaça o que vê os olhos
fechando a vista

Torneios
incestuosos campeios
— A velhice que traz
os anos não é pez
nem intumesce seios

Mal
do corpo é tal caminho
— se não escolheu partida e chegada
e sabe ser o corpo único caminho
quando mal caminhar caminha


Salomão Sousa.
E ESTE DARDO DA DÚVIDA
e esta lâmina da dor
e esta noite sem lírio

lanham minhas nádegas
desequilibram minha astúcia
e os poços das ausências

estou perdido das constelações
e perseguido pelo deserto
dos famintos cascavéis

só uma lua sem a flor das águas
arrancará do frio as minhas raízes
derramará mares nos meus vazios

só uma lua fora de estação
fora de órbita de todo planeta
vai me arrancar dos dentes do martírio


DEVORAÇÂO DOS DIAS
Miguel Jorge.
Como não devorar esses dias,
(consciência de mim), se ao nascerem
em mim, em mim se devoram?

Antes saber guardá-los, colher
o que nunca se sabe ou se adivinha.

Debruçam-se em gritos esses janeiros,
os sonhos maiores do que Andaluzia.

Pois aqui, nesta paisagem fria, debatem-se os
medos, mistérios incorporados a outros dias.

Melhor sonhar com amores imaginados como se é preciso.
Pois livres estão os touros, os mouros a se matar pelas favelas.

Talham-se corpos a ponta de faca, as bocas secas apagam
as flores azuis dos muros. Os pássaros ficam
à espera de que nunca anoiteça e vagam doídos
pelas ruínas.

Nunca se sabe dos passos dessas noites,
se não se veem as portas abertas dos dias.
Difícil fechar o mar, espesso modo de agonia.


OS HOMENS NO BARCO.
Valdivino Braz.
Os homens envelhecem no bar, bebendo as palavras salobras da noite e cuspindo o zinabre corrosivo do tédio. Na longa travessia das horas, destiladas pelos copos, sabem o cansaço dos corpos, os vincos nas faces vulneráveis e a vida moída pela mó do inexorável. Sabem nesta hora o íntimo silêncio em que os gestos se anulam, os olhos no vazio vagam, e cada homem diz a si mesmo coisas uns aos outros indizíveis. Sabem agora a solidão sozinha do lobo ferido no ermo do mundo, e os inevitáveis borrões vermelhos da sangria própria do que é vivo e dói. E morrem os homens, à mesa do bar, barco de náufragos no mar de espuma da última cerveja.


QUATRO TEMPOS.
Gilka Bessa.
É preciso espaço.
Janelas generosas e sérios portais.
Telhas à vista como céu de artesão.
E chão de tábuas saudosas de árvores
recebendo pés descalços.
Paredes distantes com registros de mãos.

É preciso lugar.
Cadeiras pesadas, cama de canto.
Uma mesa importante
onde se celebra refeição.
Perfume de fruta, doce de sol.
E ar feito para gente de pulmão.

É preciso circunstância.
Uma sagrada cozinha
de onde se vêem as fruteiras do quintal.
A indefectível escada
com degraus laboratoriais de formigas e insetos mais.
E silêncio. Com exceção para bem-te-vi.

É preciso tempo.
Para dedicar. Alisar um gato.
Ter vizinho com bacia de verdura.
E conversas nos limites inofensivos dos quintais.
Perguntar por quase nada.
Conviver com quase tudo.


DESPERTÁCULO.
Pio Vargas.
Es­tou pron­to
pa­ra a guer­ra que en­con­tro
quan­do acor­do:

bo­tei vi­gia nos sen­ti­dos
e ilu­di com com­pri­mi­dos
ou­tros se­res a meu bor­do.
Aban­do­nei o ví­cio
de es­tar sem­pre
a so­le­trar ru­í­nas,
dei li­ber­da­de a meus de­ten­tos
mi­nha pres­sa di­lu­iu nos pas­sos len­tos
e ras­guei
meu ca­len­dá­rio de ro­ti­nas.

In­ver­ti a or­dem.

Já não saio por aí
a de­vo­rar com­pro­mis­sos,
to­mei pos­se no go­ver­no de mi mes­mo
e der­ro­tei os meus omis­sos.

Ven­ci a ba­ta­lhas
de ter que es­tar sem­pre por per­to,
às ve­zes voo pa­ra den­tro
do meu so­nho a céu aber­to.

Es­tou pron­to:

eu já con­cor­do
com a guer­ra que en­con­tro
quan­do acor­do.


O VOO DAS METÁFORAS.
Gabriel Nascente.
Havia um sol espatifado
entre as dores da ferragem.

Havia um picolezeiro
fabricando
vitrines de gelo.

Havia um strip-tease
de lua
na cabeça dos pára-raios.

E um tremor de caminhões
no bolo de aniversário

Havia um zumbir de abelhas
no cabo dos punhais.

E um navio encalhado
no coração das fragas.

Havia uma chuva
escondendo nuvens
dentro dos sapatos

Havia um rio que nunca
nadou entre as escamas.
E um adejo de pombos
na taça de Dionísio.

E um canivete de prata
no olho de Édipo.

E o haver do não-existir
                                   havia.

Uma procissão de mortos
no ventre dos espelhos.

Um choro de piano
nas águas do
infinito.


REZAVA PARA DORMIR.
Brasigóis Felício.
Quando, no Estado
sitiado pelo crime
presos têm que revezar
para dormir, é que o país
do carnaval virou
uma Estação Carandiru

Com quantas
chacinas de Candelária
se faz uma carnavália
à brasileira?

Quando o horror superlota
e o crime se reparte
em veias abertas
de desespero, restam
as vinhas do vício
de sempre perdermos
para nós mesmos.

No país dividido
entre malandros de gravata
e malandros de navalha
os símbolos da pátria
são varridos
pelas balas perdidas
do desgoverno,
e o futuro do povo
se escreve
com os punhais do medo.


OUTRO DESENCANTO.
Jamesson Buarque.
Esta noite acaba de ficar mais escura
Os corvos se demoram à janela
Lá embaixo, um mendigo sofre a noite
mas outra, pelo frio - ainda assim, ri
e afoga a desgraça num pote de cola
Decerto, debaixo de alguma ponte
ao rés, que seja no canto de um viaduto
alguma criança sofre de outra sina pior
mas seus ossos já estão calejados de frio

Minha noite se tornou uma droga dessas
que não se apagam, que fumam os olhos
que levam a vontade para Nunca Mais
a deixar-me carcaça ouvindo os corvos
É quando falta o chão e uma palavra
uma palavra terrível, já há muito temida
pronunciada um dia por quem nas cinzas
aquele que fez versos como quem morre
chega e, sem hesitar, sentencia: desencanto


O EXÍLIO VOLUNTÁRIO.
Carlos Willian Leite.
medida com os dedos
a vida era larga

cresci na inércia de sempre
tênue como um fio de navalha
na aspereza dos dias

cedo:

aprendi a engendrar milagres
com a ferrugem dos meus sonhos

depois: eu compus meu próprio hades
pra morar com meus demônios

desapegar-se onze meses por ano
rezava o mandamento

a barba em desalinho
os sapatos gastos
as papilas estrangulando palavras


Wesley Peres.
Segredos para dormir:
ouvi um cão orando para as águas;
meditei chamas para entender o rio;
respirei águas e me parti em dois;
de fora desses dois em que me parti, flutua a coisa que sou.
Também foi ela quem me aconselhou a sonhar em terceira
pessoa.


hidrofobia.
Kaio Bruno Dinossauro.
a raiva (também conhecida impropriamente como sangue quente)
é uma doença infecciosa que afeta os mamíferos
causada por um vírus que se instala e multiplica
nos nervos periféricos e depois no sistema nervoso central
a transmissão dá-se do animal infectado para o sadio
através do contato casual ou virtual
esta se dá principalmente por;
lobos solitários, raposas em fuga
coiotes maloqueiros e nos morcegos da night
mesmo sendo controlada nos animais
sua incidência é global e demanda grande atenção
já que é uma doença fatal em todos os casos.

Heitor Vilela.


Luiz Felipe de Aguiar Teixeira.
busco no corpo adverso
a escrita do meu corpo avesso

o silêncio grita no espelho:
eu não me reconheço


O MAIOR POEMA DO MUNDO.
Walacy Neto.
E o medo

de certos freios
que possam parar
pausar-me inteiro.
sem o susto.

ou mudar-se o curso.
cedo
perder o pulso,
tenho medo de ceder.
ou não estar tramando
e no nascer já
me ver tentando
escapar para
pacificação.

Isso não
Essa não
de ficar
só eu &
só- lidão
ou
que os dedos
toquem sem coesão.
que o surto seja breve
ou leve,não aja fritação.
que os versos sejam
verdes
sem vermes de paixão
que falte musa
música ou segredo
que não se tenha superficial desejo
ou que não exista tensão

medo
acima de tudo
que este assunto
se torne surdo
sem certa divagação

que talvez viva em função
num futuro estranho
o canto vire tédio
ou oração.


William Trapo.
Boa noite mundo estranho
Ou seria eu?
Meu pescoço ainda está esquisito
Já sabem o que aconteceu
Eu sempre estive ali
Mas você se esqueceu
Agora é meio tarde
Trouxe junto tudo que era meu
“Aquele cara era mesmo louco”
Você nem sabe quem fui eu

“Ele não vai para o céu”
Mas o importante não era ser feliz?
Mais que qualquer um aqui
Foi tudo que eu sempre quis
Escuto um choro ali no canto
Porém inútil, já não me encanto
Há tempos atrás
Eu acreditaria que era mesmo para mim aquele pranto
Mas não, era só para causar espanto
“Ele era tão amado, não entendo”
“Rodeado de pessoas boas”
Melhor seria se fosse mantido o silêncio

Como tudo pode ser tão falso?
O mundo conspirou
Conspirei no sentido contrário
Sou aquele cara que nunca existiu
Fiz um filme, ou mais
Mas ninguém assistiu
Aprendi a ler, talvez enxergar
E me expulsaram antes mesmo que eu pudesse ensinar
Juntei um milhão ou seis, rancores
Num só ato matei todos vocês, atores
Tentaram me deixar de lado, figurante
Sem que notassem eu cheguei, fui amante
E num piscar roubei a cena
Mas tudo continua uma merda
Quem era o problema?